E agora para um post verdadeiramente chato...
Estive a ler os dois posts intitulados "O fim do Welfare State" (I e II), escritos pela Clara Macedo Cabral e fiquei com vontade de opinar:
"As pessoas mais responsáveis que conheci (curiosamente, também os melhores colegas) não o eram por medo, porque tinham um Big Brother a vigia-las mas porque tinham um juíz dentro de si, um grilo, uma boa consciência fruto da educação."
Não podia estar mais de acordo. E quando a educação não cria esses mecanismos internos (o que acontece na grande maioria dos casos)? O público que se lixe? Ou assumimos frontalmente que a maior parte das pessoas não teve a educação ideal para o cargo que desempenha, e lidamos com isso abertamente, sem medo de ofender?
"Tudo isto apenas para concluir, que os mais duros e acérrimos opositores da função pública desejam tanta a sua segurança como qualquer ser humano. E que é legítima essa pretensão. Porquê, então, ocultá-la como se fosse uma vergonha, uma fraqueza?"
É uma questão de método: no sector público a segurança é oferecida, na sector privado temos que a ganhar. Parece-me que a solução que implica a transformação do sector público numa ilha idílica no meio de um mundo cruel, onde as regras do jogo seriam diferentes, não faz sentido. O sector público não é uma ilha, é uma peça do puzzle. Fornece serviços que apenas se distinguem, no seu funcionamento, dos do sector privado pela natureza colectiva do seu "proprietário".
Se queremos ter segurança (entre outros direitos) no sector privado e produtividade (entre outras obrigações) no sector público, temos que encontrar uma forma cooperante de o fazer, sem entrar em demagogias ou visões parciais da realidade. Não há uma luta entre o público e o privado. Há apenas uma instrumentalização com fins políticos. E isso sim é uma verdadeira vergonha.
"São os valores do capitalismo: consumo e poder, que afectam indiscriminadamente as relações profissionais e pessoais. São valores, claro que sim. Não questionar se bons se maus. Existem e temos que viver com eles. Ou proteger-nos deles."
Sempre achei que um pouco de pragmatismo nunca fez mal a ninguém. Aceitar que não há alternativas ao capitalismo e aos seus valores (que não se esgotam obviamente no consumo e no poder) é o primeiro passo para a resolução dos problemas do próprio capitalismo. O segundo passo, seria mudar o capitalismo por dentro, numa perspectiva dialogante e não numa óptica de confronto. Afinal de contas, racionalmente, só podemos chegar a uma conclusão: cada um tem mais probabilidades de ganhar, quando todos ganham.
Reconheço que poderei ter dito uma série de banalidades, mas nunca cheguei a perceber a facilidade com que às vezes se esquecem essas mesmas banalidades.
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