Observações Natalícias 2
Olho para a minha avó e vejo a vitória do corpo envelhecido, face a uma mente ainda sedenta. A voz arrastada e a respiração sincopada expõem de uma forma dolorosa a sua fragilidade de nonagenária. O discurso carrega memórias longínquas. Fico com a ideia que passou os últimos tempos a avaliar o seu próprio percurso, numa derradeira catárse, enquanto espera pacientemente. No final da noite, levo-a ao lar a que nós chamamos a casa dela, cheio de medo de a matar involuntariamente. 92 anos devem levar muito tempo a rever.
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