9.1.04

Deambulações caninas

Para garantirem a sua própria sobrevivência, os cães domésticos vivem diariamente com um destino trágico que os obriga a viver com companheiros cuja linguagem não percebem e cujo o único interesse que poderiam eventualmente ter é levado pelo bidé.

Gosto, talvez por isso mesmo, de conferir uma espécie de aura mística ao meu cão. Olho para o hábito que ele tem de se sentar na esquina da varanda, a olhar para o céu, como uma prova de que a sua capacidade de ter consciência desse mesmo destino é real. Vejo-o melancolicamente atento aos sons da cidade, à procura de elos perdidos na urbe, irremediavelmente exilado, e não consigo ficar indiferente ao seu fado.

Um cão, tal como as pessoas, torna-se mais interessante quando é capaz de pensar sobre si próprio. É claro que, fiando-me no meu fraco conhecimento zoológico, ele pode ficar na tal esquina unicamente porque uma imposição fisiológica da espécie o obriga a arejar as guelras, ou uma coisa do género...

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