22.1.04

Preço de amigo

O conceito de preço de amigo está alicerçado numa coisa simples: pensamos instintivamente que os nossos amigos não podem ser competentes. Se estamos a recorrer aos serviços deles, estamos a fazer-lhes um favor e não uma escolha racional, o que merece ser recompensado com um desconto. Quando optamos pelos serviços de um desconhecido, isso já não se passa. Só fazemos esta opção quando embarcamos na aparência de competência que nos vendem, e aí o que exigimos é um serviço de qualidade, não um desconto.

Este conceito pode ter diversas implicações relativamente à maneira como vemos os nossos amigos, que se aplicam igualmente a nós próprios. Como aceitar a competência de alguém quando temos o conhecimento intímo de uma série de podres seus? Como é que alguém pode ser um bom advogado ou pedreiro se, nos tempos da faculdade, pintou de vomitado as ruas do Bairro Alto ao nosso lado, se se envolveu sexualmente com a rapariga mais sebosa do liceu, ou ainda se gosta de oferecer a sua cama a crianças, porque partilhar o amor é a coisa mais bonita do mundo? Vendo bem as coisas, um desconto é mais do que merecido, mesmo que seja fruto de chantagem emocional.

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