Custos indirectos
Um dos preços da fama é a deceptividade do olhar. Ser "um famoso", implica que as tentativas de estabelecer uma ligação com alguém, através do olhar, são feridas de morte pela banalização ontológica provocada pela fama. Conhecemos os seus corpos, as suas vozes, muitas vezes as suas histórias, e nalguns casos uma parte das suas intimidades. "Sabemos" que o Joaquim Monchique é um cocainómano e que o Herman José, tal como o Michael Jackson, gosta de passar os seus tempos livres a subir às árvores com crianças.
Este pseudo-conhecimento chacina todos os elos normais que "um famoso" possa ter com o resto do mundo, obrigando-o à ostracização no seu próprio meio, limitado a relações fantasiadas em technicolor. O nosso olhar sincero, que procura a reciprocidade, está reservado para seres palpáveis, para desejos materializados, reais. Para as vítimas da fama, guardamos um olhar clínico, muitas vezes a roçar o necrófago, negamos-lhes a possibilidade de uma afectividade anónima.
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