4.3.04

Micro-clima

Ninguém corre no meu bairro. Para além do ocasional cão que o faz por imposições da evolução biológica da sua espécie, e do condutor que circula em velocidade excessiva porque ainda não se apercebeu das regras implícitas deste gueto, toda a gente caminha com uma cadência certa, pausada, segura. As pessoas que por ali andam, percorrem um trilho com intencionalidade, não andam à deriva. Não há movimentações supérfluas. Deslocam-se seguindo um qualquer desígnio superior, irrefutável. Não vivem as ruas.

Ninguém se perde em Lisboa, e dá de caras com o meu bairro. Não é possível chegar lá por engano. A minha casa está fora do caminho da aleatoriedade. Vivo no centro da cidade, mas longe do seu pulsar. Vivo numa espécie de placa central civilizacional, que é ocasionalmente atravessada, contornada, mas que só é frequentada por quem lá estacionou o carro e não paga parquímetro.

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