14.4.04

Animalidade

Um bébé dá-nos a hipótese de desempenharmos o papel de Deus no nosso microcosmo, tentando criar alguém à nossa imagem, alguém de extremamente complexo e potencialmente "melhor" do que nós próprios, um desdobramento. É um investimento de alto risco, uma vez que o aparecimento de uma criança é algo de fracturante: assassina-nos uma parte das nossas vidas, sem nada que se pareça com uma componente de capital garantido. Se tudo correr pelo melhor, torna-se independente ao fim de uns anos, deixando-nos com as cicatrizes da aprendizagem e eventualmente uma residência assistida. No entanto, até chegar à fala e a caminhar, fica-se por uma existência quase canídea, limitando-se a distinguir-se de um cão pelo seu potencial e pela inexistência da gratidão instintiva e manipuladora, que é substituída na sua função por um corpinho viçoso.

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