Do contra
Ao sair dos Armazéns do Chiado, quase tropeço num jovem que está sentado em frente da saída do centro comercial, na beira do passeio, lendo numa desengonçada descontracção o "La Vanguardia". Realmente, dificilmente me lembraria de algo mais "à frente" do que o imobilismo transgressor deste rapaz. Espraiado com o seu jornal, torna-se um obstáculo para o pensamento seguidista de dezenas de pessoas que percorrem o trilho da sua transumância entre o escritório e casa, com uma paragem na FNAC. Movimentando-se da cadeira para o chão, este rapaz proporciona a todos os que tropeçam nele uma visão fugaz de um mundo diferente, onde somos todos livres, não tendo que seguir ordens, nem usar fardas, nem viver de uma forma rotineira. Confesso que levei algumas horas a perceber o alcance deste gesto. A minha primeira vontade foi de me voltar para trás e de gritar algo de tradicionalista como: «Vai trabalhar, malandro!».
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