Muros
O túnel das Amoreiras transformou-se numa espécie de muro de Berlim, sem cargas ideológicas, mas igualmente da responsabilidade de um bando de pantomineiros. Passando grande parte do meu dia na zona de influência da dita obra, tornou-se habitual usar termos como "o lado de lá" para descrever a zona a Sul da ferida aberta.
É certo que tendo que atravessar para o outro lado algumas vezes por dia, a carga demoníaca das minhas deslocações de carro aumentou consideravelmente. No entanto, esta fronteira física veio conferir uma carga encantatória aos territórios que se encontram para lá do caos. Saio à rua e sinto uma espécie de chamamento, um dever patriótico de me lançar à descoberta de novas paisagens urbanas e dou por mim, vezes demais, a rondar o bicho, a tentar navegá-lo. Bebendo directamente da dimensão épica da portugalidade, o túnel acabou por tornar-se um buraco negro que suga lisboetas que "marcham contra os canhões, sobre a terra e sobre o mar", como lemmings.
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