Notas Nordestinas I: O contexto
Passei uma semana na Praia do Forte, a 60 km de Salvador da Bahia, num resort aparentemente dirigido ao português da classe média para cima, ao brasileiro com filhos, e ao habitante de qualquer outra parte do mundo, da classe que entender (não consegui tipificá-los).
Não tenho por hábito viajar empacotado, mas restrições diversas conduziram-me a esta modalidade, procurando sobretudo de não ter chatices a organizar uma viagem para um sítio que não me interessava particularmente visitar. O que eu encontrei não foi o Brasil, mas sim um sítio com empregados brasileiros, a oito horas de avião da Portela. O Brasil ficou na estrada irregular que acabava na cabine do segurança, à entrada da gated community onde residi durante uma semana. Ocasionalmente também o encontrei, tanto na sua versão natural como urbana, em expedições ao país real que cercava o ambiente controlado do nosso poiso.
Admitindo que o embrulho turístico que nos envolve está tão presente nesta modalidade de viagem, como na versão que consiste em dormir no chão de uma cabana de índios, beber e comer o que eles comem, e fingir que vivo o que eles vivem, devo assumir que este turismo tem uma qualidade: a sinceridade. As pessoas que nos acolhem tentam sinceramente dar-nos o que queremos, e nós queremos sinceramente esquecer-nos da vida do outro lado do Atlântico. Se para isso acontecer tivermos que consumir o Brasil em pequenas doses, que seja, mas nunca com o objectivo final de descobrir o que quer que seja sobre outras culturas. Isso será apenas um bónus. É um turismo que se define por oposição à saturação do dia-a-dia, e não pela procura do exótico. Se é pior ou melhor não sei, e também não me interessa entrar em discussões do tipo turista vs. viajante. Há públicos para tudo, e como esta viagem me ensinou, todos nós podemos ser em determinadas alturas da nossa vida, exactamente isso: um público para tudo.
Está introduzida a ida ao Nordeste. Outros capítulos seguirão.
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