6.4.04

Notas Nordestinas II: O ritmo

A vida num resort no Nordeste é pautada pelos horários de diversos acontecimentos destinados a nos ocuparem ao longo do dia, se por acaso nos apetecer fazer algo, e direccionados a vários tipos de hóspedes. O público em geral organiza as suas actividades em torno dos horários das refeições, a única altura em que, por imposição fisionómica, somos forçados a mexer-nos. Durante o dia, a comida pode vir até nós, mas à noite somos obrigados a ir até ela, apesar de estarmos no Brasil.

Com esta restrição em pano de fundo, começa a haver uma triagem em função da proveniência da vítima. O público feminino vive em sobressalto com a torrente de entusiásticos chamamentos para actividades "Sveltesse" como o vólei de praia, as aulas de capoeira, a hidro-axé, etc. O português do norte, vive ao ritmo da família alargada que trouxe atrelada de Portugal. O português do centro-sul vive em função dos anseios da sua recém-adquirida e, talvez por isso mesmo, frágil esposa. O resto dos turistas, na sua sapiência, apenas entra em polvorosa com a entrada em cena de reflexos de vida selvagem (iguanas, macacos, etc.) que conseguiram escapar do exterior e se alimentam literalmente das limitações do conhecimento zoológico do Homem pseudo-civilizado. A sua aparição de características indomadas é suficientemente exótica para serem recompensados com restos de refeições.

No meio disto tudo, há quem viva de acordo com os impulsos e maquinações alheias, e que vai anotando coisas num caderninho suspeito.

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