19.4.04

(Outra vez) lá fora

Ontem, apesar de já ter sido avisado para não o fazer, fui ver o filme do Fernando Lopes. Como já o tinha dito antes, desconfio de pessoas que falam como pensam. Neste caso, de argumentistas que põem outras pessoas a falar como eles pensam. Dos filmes que me lembro de ter visto, acho que o pretensiosismo intelectualizante deste "Lá fora" só foi ultrapassado pelo "Après la reconciliation" da mulher do Godard, mas nesse fui mesmo forçado a sair a meio. O João Lopes criou um argumento à sua imagem, pelo menos à sua imagem pública, onde os personagens, na sua angústia, nada mais fazem do que "armar ao cagalhão" (perdoem-me a vulgaridade).

Por outro lado, a performance dos actores é quase ridícula, de tão teatral, mas admito que talvez fosse a única forma de representarem o que o crítico de cinema lhes escreveu. É curioso ver que os vislumbres de "mundo real" que se podem detectar no filme, esses sim, são verdadeiramente ridículos, como se uma saída do acidentado caminho da metafísica, só pudesse acabar em desgraça. Gostei particularmente da inacreditável faceta do Rogério Samora como corretor de bolsa, onde ele diz a certa altura uma coisa deste género, ao telemóvel: «Compra. Então vende. É essa a nossa estratégia neste momento. Não te esqueças de ver os índices de Nova York e de Tóquio». Mas o que é isto? Pop art? No meio de tanta fanfarronice, só mesmo o Miguel Guilherme aparece como último reduto da naturalidade. Talvez o hábil argumentista o tenha poupado (ou esquecido) pela pequenez do seu papel.

Sobre a cinematografia da coisa, aconselho opiniões de gente mais qualificada do que eu, mas na minha humilde opinião, arrisco-me a afirmar que o filme é uma bela trampa.

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