19.5.04

Leitura de praia

Ler na praia impõe diversos constrangimentos de ordem técnica. Entre outros, é impossível encontrar uma posição confortável durante mais de dez minutos, estamos constantemente distraídos com a efervescência que nos rodeia, e a alvura das páginas pode facilmente cegar-nos. Como "diz que" resistir é vencer, se quisermos contornar os obstáculos ao desenvolvimento cultural que existem nos areais, impõe-se algum planeamento.

Qualquer leitura de praia, desde que o seu conteúdo exija algum raciocínio (o que excluí aproximadamente 87% das revistas), deve estar estruturada em capítulos curtos, organizados com a ajuda de um índice e que permitam encaixar uma ideia rápida entre o choro desenfreado de uma criancinha que se perdeu dos pais e o atropelo por dois cães "brincalhões". Uma letra gorda, um papel de tonalidades bronzeadas e um formato que não se curve perante a força do vento, são igualmente bem-vindos. Finalmente, é importante (mas não essencial) para facilitar a concentração, que o livro esteja escrito na nossa língua materna.

Resumindo, ficamos praticamente limitados a livros de bolso de aforismos, aos manuais do carro, do vídeo (ou de qualquer outro equipamento doméstico), a livros de self-help, e ao ocasional "ensaio" sobre marketing ou estratégia empresarial. Isto significa que talvez valha mais a pena esquecer a resistência, e deixarmo-nos cair directamente nos braços da histriónica maralha em fato-de-banho.

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