3.6.04

Ritmos

Vinha no carro a ouvir o primeiro disco do Carl Hancock Rux e a pensar que prefiro sem dúvida a poética da dita spoken word, à palavra esmagada pelo ritmo do hip-hop. Acho que essa preferência está associada a uma ideia que li concretizada pelo Filipe Seems, em entrevista no DNA de sábado passado, onde fiquei a saber que o René Char tinha dito que o poeta devia deixar vestígios da sua passagem, e não provas, já que só os vestígios fazem sonhar.

No hip-hop, o sonho é frequentemente acorrentado pelo carácter definitivo e rochoso das batidas. O significado das frases é como que "provado" pela métrica rigorosa, é limitado pela realidade que originou a música. A "palavra falada", por oposição, é solta, curvilínea, deixa-nos apenas vestígios que fazem com que as composições tenham tanto de nós como do autor, o que se traduz numa certa plenitude discursiva que eu não consigo associar à chamada "poesia urbana" do rap.

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