9.7.04

Nomeações

Pensava ontem, enquanto via o excelente "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" na evolução do esquecimento, retratada pela diversidade de nomes que usamos ao longo da vida. Lembrava-me dos telefonemas para casa de namoradas adolescentes, em que me via forçado a lutar contra a seriedade distanciada da pessoa que fosse sorteada para atender a minha chamada, apenas com um frágil nome próprio, até chegar à voz que queria ouvir. Uma voz que, talvez graças à preciosidade do inocente amor daqueles anos, me reconhecia imediatamente, assim que ouvia as duas sílabas que me identificavam.

Mais tarde, amadurecidos, calejados pela vida, juntamos um ou dois apelidos. Aceitamos tristemente que num universo alargado de contactos, os Josés, os Nunos, os Pedros, e afins, se multiplicam e que a perda de inocência acarreta uma banalização da nossa própria identidade. Juntamos dados para combater o anonimato, para percorrer o vazio que nos separa uns dos outros, na esperança de um dia voltarmos a ser apenas um nome próprio.

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