City sickness
Lembro-me de, no limiar da puberdade, estar pendurado nas grades de uma janela com um miúdo algarvio que mal conhecia mas que, talvez por termos a mesma idade e ele viver numa casa ali próximo, estava ao meu lado a ver a irmã mais velha de um amigo de verão a vestir-se (ou a despir-se). Lembro-me de termos sido descobertos no nosso posto avançado e de termos fugido com o corpo dela. Lembro-me do tal miúdo ter dito enquanto corríamos extasiados que gostaria de lhe "lamber a cona" e dessa declaração ser a maior alarvidade que alguma vez tinha ouvido.
Nunca cheguei a perceber como é que numa altura em que eu me conseguia lembrar de todas as (raras) ocasiões em que tinha estado suficientemente perto de uma rapariga para que me fosse permitida uma tangente aromática a um mundo impossível, aquele puto já tinha mergulhado de corpo e alma numa ficção científica que ia bem mais além do universo do Buck Rogers, que eu frequentava.
É certo que durante algum tempo fiquei intrigado com esse seu desejo e com as suas ramificações, mas a distância entre a mulher que eu vi e a "cona" que ele viu, perdura na minha memória com um dos exemplos mais marcantes da tal "rudeza campestre". Não que na cidade que eu e os meus amigos povoávamos não existissem "conas", apenas ainda não existiam "homens com ó grande". Ninguém conseguia basear convicções em fantasias de pendor patológico: a nossa tese da altura ainda era a do amor. Só mais tarde dividimos as nossas fidelidades.
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