19.10.04

Civismo popcorn

Sempre que me vejo obrigado à proximidade não requisitada com os meus semelhantes, acabo imerso num qualquer dilema moral. No cinema é um clássico. Já para não falar nos sons, cheiros e tiques do cidadão anónimo, a restrição de liberdades individuais tem-se tornado uma figura cada vez mais presente. A última de que fui vítima, foi exercida por um casal de espectadores que no final do "Antes do anoitecer" queria ficar em meditação.

Até aqui tudo bem, já que o filme até se prestava a isso. O problema surgiu apenas porque o arroubado casal mergulhou num fervor sonhador, sentado na coxia, deixando meia fila entalada entre um caminho mais longo e entupido com pessoas em dilemas semelhantes e a revolta contra uma ditadura momentânea mas extremamente eficaz. Eu, como figura de proa desse grupo agrilhoado (estava sentado ao lado dos pombos), resolvi levantar-me para os acordar, depois de lhes ter dispensado cerca de um minuto de contemplação. O casal olha para mim e lança-me umas trombas. Enfim, face a isto, não tive outro remédio senão atropelar quatro pernas que me ofereciam, com relutância, uma passagem com dez centímetros de largura. Por um país melhor.

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