Wilde
No sábado, depois de ter passado uma hora a tentar pateticamente estacionar o carro no raio de um quilómetro do Bairro Alto, lá consegui jantar. Um crítico de arte de renome celebrava o seu aniversário na mesa do lado. A certa altura, ficámos a sós com o grupo dele. Beberam champanhe em cima das cadeiras, dançaram Dean Martin e Frank Sinatra, riram muito, sempre com gargalhadas que se queriam incontidas. Lá pelo meio, uma russa petite, cujas ancas rolavam de uma forma exuberante graças aos seus joelhos sempre muito unidos, e a proverbial homossexualidade, compunham aquela panóplia iconográfica das artes nacionais que se banhava numa felicidade contagiante.
O silêncio apenas irrompeu, seguido de olhares curiosos, quando eu disse talvez alto demais, a frase "eu sou do SIS". Na minha mesa, ríamos do Serviço de Informações de Segurança, na do lado, aparentemente levavam-no a sério. Não consegui deixar de pensar em como esta papa a que chamamos democracia é difícil de digerir, em como aquela alegria, por muito copiosa que fosse, ainda era clandestina. Mais uma vez, tive pena de viver num país politraumatizado. Nem que seja porque limitou a inveja que senti daquele ajuntamento arrebatado.
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