Caranguejos
Os pensionistas de Lisboa parecem ter medo da cidade que lhes escorreu por entre os dedos. Talvez por terem deixado pedaços de si próprios em lugares que o tempo fez ruir, transformando-os em repositórios anacrónicos do vazio urbano. Passeiam-se olhando repetidamente por cima do ombro, receando as intenções de uma proximidade sinuosa, desonesta. Enquanto esperam para atravessar uma rua, na segurança morna da sinalização, agarram-se a qualquer coisa que os impeça de cair para o meio da estrada, não vá o presente, que os ataca sempre pelas costas, empurrá-los para debaixo de um carro. Assistem pesarosos ao desfile que os vai enterrando no passado.
1 Comentários:
O "flaneur de Lisbonne" voltou!
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