22.2.05

Mais futuros


Conhecendo a Elza Soares apenas de a ter ouvido cantar durante dez minutos no carro de uns amigos, mantenho um relacionamento com a senhora baseado na ignorância. Para além do nome e da sua grafia pouco mais sei da sua vida. Sendo o desconhecimento um terreno fértil para a ficção e para o apontamento sociológico de pacotilha que tanto aprecio, assumi que, para uma cantora, ter o nome de "Elza" e não "Elsa" seria um twist pomposo, uma reminiscência de uma época em que ainda era possível esse tipo de ingenuidade comercial. "Elza Soares" seria um rarefeito "nome artístico" de uma Elsa Soares criada no subúrbio de Engenho de Dentro. Uma história de sucesso perfeita e levemente anacrónica.

Contudo, usando o Google como meio para obter informação de fontes duvidosas, descobri num site brasileiro que as duas ortografias são equivalentes. Parece que tanto a Elza como a Elsa são virgens das águas, pessoas falantes, curiosas e criativas para quem nenhum obstáculo é grande demais. Ficam as duas deprimidas com facilidade mas superam as crises rapidamente. No lar são ambas excelentes mães e companheiras, com nomes que derivam do alemão, língua em que significariam originalmente "nobre virgem".

Isto é tudo razoável, mas lamentavelmente não há qualquer sobreposição entre o "zê" que eu queria místico e as nobres e simbióticas virgens. A Elza, nascida em 1937, fintou uma colagem criativa ao modernismo de um ZX Spectrum e assistiu, indiferente, à substituição do Citröen ZX, esgotando assim possíveis associações com as primeiras referências a marcas com "zês" que me vieram à cabeça. Na minha escassez de conhecimento, procurei "artismo", glamour e até uma alusão futurista por ter encontrado essa alegórica letra nas duas sílabas do nome Elza. Saiu-me na rifa uma nobre virgem. É caso para dizer que o futuro que eu quis imaginar socorrendo-me da minha limitada iconografia, para além de já não ser o que era, no caso da Elza Soares, nunca chegou a sê-lo.

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