29.7.05

Sonhos

Pensou em escrever posts na terceira pessoa. Podia ser que alguém tomasse o blog por ficção.

28.7.05

Livro de estilo

Estou a precisar de um plano, de um critério editorial. Algo que me tire deste blog.

Decoração

27.7.05

Quedate de rodillas

Passei uma parte da tarde de sábado ajoelhado, a limpar rodapés. Uma curta penitência que me ensinou o verdadeiro valor do que se pode comprar por cinco euros à hora. Como a grande maioria das tarefas desempenhadas de joelhos, esta também é iminentemente degradante. Além de degradante, é um fiasco, facto confirmado avant la lettre pela necessidade de nos arrastarmos de joelhos pela casa para nos apercebermos de qualquer hipotético benefício. Longe da vista, longe do coração (mesmo que perto do pulmão), é uma regra aplicável indiscriminadamente no microcosmo do pó doméstico. Regra especialmente aplicável quando mergulhamos num sombrio neo-realismo em luminosos dias de Verão.

25.7.05

Bafo

Da noite ao bafo a álcool, do bafo a álcool ao beijo, do beijo à repulsa, da repulsa ao remorso às mãos da imagética da violência doméstica, do remorso às mãos da imagética da violência doméstica ao pesadelo onde alguém nos afirma ao ouvido que "all the animals come out at night - whores, skunk pussies, buggers, queens, fairies, dopers, junkies, sick, venal. Someday a real rain will come and wash all this scum off the streets.", vão cinco curtos mas intensos passos...

22.7.05

Recuerdos

Só há duas coisas que uma pessoa que viaja pode fazer pelos que ficam em terra: levá-los ou não ir. Mais: por muito que se fantasie, trazer recordações de sítios longínquos não é a mesma coisa que levar lá alguém.

20.7.05

Caridade privada

Recebo na minha inbox um peditório proveniente de uma amiga que foi para o Brasil ajudar desfavorecidos. Volto a recebê-lo mais três vezes, mas agora em modalidade forward (presumo que na urgência de passar a mensagem, ninguém se dê ao trabalho de ver a quem é que ela já foi enviada). Como é óbvio, nem com o mínimo solicitado contribuí. Não só não contribuí, como a primeira coisa que me veio à cabeça foi como seria fácil alterar o NIB que vinha no forward e tornar-me numa instituição de caridade de um e-mail para o outro. É claro que não me orgulho desta mesquinhez, mesmo porque servir de alimento a blogues não é grande justificação para a sua existência, mas por outro lado parece-me ingénuo fazer depender projectos humanitários de filtros de spam e da vergonha mínima que alguém possa sentir, sozinho, face a um écran, com capacidade para editar à imagem das suas fraquezas. O serviço mínimo da caridade por e-mail, é uma epístola anexada em formato "pdf".

Relações de vizinhança II

Caro Santos da Estefânia,

Lamentavelmente, a vastidão da minha biblioteca não fica atrás da abrangência de aprovisionamento da minha despensa: se não estiver incluído na receita de ovos estrelados é provável que esteja em falta. Em vez de salsa e Martin Amis, vodka e o Expresso serve?

Um abraço do,
Silva dos Anjos.

Evidências

Sabemos que há algo de errado no mundo quando damos por nós a assumir que é mais provável um cão estar deprimido do que ter um tumor no fígado.

18.7.05

Relações de vizinhança

A Estefânia sempre me pareceu uma zona muito recomendável. Muito obrigado, Nuno.

Fins de semana


Adormeço, mas sonho invariavelmente que estou acordado.

13.7.05

Inovação

Durante séculos, as escolhas foram simples: depois da morte, o inferno, o céu ou um fim sem alegorias. Hoje em dia, para além de variações à volta destes três desfechos clássicos, há cada vez mais quem morra e vá para o escritório.

12.7.05

Ecossistema

Só como doces para tornar mais intensa a experiência de comer coisas salgadas imediatamente a seguir. A cada um a(s) sua(s) droga(s).

11.7.05

Idade Média

Neste mundo da física quântica, do eu, das equações diferenciais, do pessimismo, do modelo 10, o que realmente me espanta é que ainda se mande alguém "passar por cima". Com direito a gesto atabalhoado e tudo.

10.7.05

Sunday's best

Vou sair de casa sem destino. Se calhar vou só até ao fim da rua e volto para trás. É o que acontece quando decidimos não ir à praia, num qualquer domingo de verão.

7.7.05

Também eu vejo pessoas mortas

Até recentemente a presença do sobrenatural na minha vida tinha sido bastante limitada. Que me lembre, tinha-se resumido a dois episódios marcantes. O primeiro aconteceu algures na minha adolescência quando num disco dos Red Hot Chili Peppers, as vozes foram repentinamente substituídas por uma algaraviada repetitiva, reaparecendo passados uns meses e mantendo-se imperturbáveis até hoje. Assumo, com alguma relutância apesar de tudo, que possa ter sido vítima que um delírio juvenil, até porque, por essa altura, também defendi vigorosamente (entre outras intervenções celestiais) a ideia de que tinha ido a Hamburgo, quando apenas tinha sonhado com a viagem.

O segundo episódio foi a descoberta na minha gaveta de um Swatch que, por ser um dos meus preferidos, foi solenemente lançado às águas do Guadalquivir, depois de ser ter avariado de forma concludente enquanto atravessávamos de barco o Parque Nacional de Donaña, a caminho da Expo 92. A cerimónia foi testemunhada e profundamente sentida por um amigo meu, coleccionador empenhado de relógios da marca, que me acompanhou igualmente na fase de negação que se seguiu ao regresso daquele espécimen particular, que julgávamos irremediavelmente desaparecido no lodo.

No entanto, nos últimos tempos, o sobrenatural ressurgiu: vejo a minha avó nos maneirismos das suas contemporâneas que continuam por cá, a passear na Baixa, como sempre fizeram. Mais maduro (diz que), substituí a incredulidade por uma psicanálise de trazer por casa, o milagre pela saudade.

6.7.05

Placidez

Elevação moral é, face ao belo, não fazer nada. Muito menos investigá-lo. Muito menos investigá-lo por amadorismo.

Olimpicamente cagando

Há quem vibre com as escolhas do Comité Olímpico Internacional. Há quem se limite a preocupar-se vagamente com a transmissão televisiva, mais concretamente se vai ser feita em sinal aberto ou se vão obrigar as pessoas a tentar convencer uma qualquer tasca a assistir as finais de natação sincronizada à hora do jantar. Há quem diga que tem dois clubes. Há ainda quem duvide seriamente da racionalidade de todas estas opções de vida, mas confine o vocabulário transgressor aos títulos dos posts.

4.7.05

Inviabilidade II

Há dias em que se torna evidente que muita da crueldade deste mundo está enclausurada entre as palavras da frase "rendibilidades passadas não constituem garantia de rendibilidades futuras".

2.7.05

Inviabilidade

A única coisa que queremos de pessoas perfeitas é humanidade no tratamento do erro. Precisamente o que elas não nos podem dar.

Insinuações