25.11.05

Maternidade

Passada uma época de hostilidade gratuita, dou por mim a gostar de mães. De mães felizes acompanhadas pelos seus filhos. O mais estranho de tudo isto é andar a gostar das raparigas não como um projecto sexual, mas como quem gosta de um postal. Pensando bem, isto não é estranho, é apenas intimidante.

As Mónicas

Depois de repetidas efabulações, hoje dei-me finalmente ao trabalho de descobrir quem eram as "Mónicas" da Travessa das Mónicas. Aparentemente, era o nome dado às freiras de Santa Mónica ou da Ordem de Santo Agostinho (filho de Santa Mónica) que habitavam o Convento das Mónicas, situado na tal travessa. Descobri igualmente que (entre outras coisas) a mãe espiritual destas senhoras era uma mulher que "suportou infidelidades conjugais, sem jamais hostilizar ou demonstrar ressentimento contra o marido por isso", que aprendeu "a não o contrariar com actos ou palavras, quando o via irado" e que converteu o filho ao cristianismo à força de orações e lágrimas. Tinha esperança que a origem das "Mónicas" fosse algo de mais terreno, mais propício a historietas incipientes delineadas a caminho do escritório, mas nada como uns séculos de história, uma Maria Teresa Horta e uma APAV para banalizar a santidade de uma mulher.

21.11.05

Postura

Já há muito tempo que decidi que ia ser uma pessoa que diz disparates e não uma que os ouve.

18.11.05

Listas

Boas listas são um objecto bestialmente estimável. Listas de ódios têm uma abrangência temática ilimitada e dão-nos a oportunidade de sermos infinitamente picuinhas, ou abertamente snobs, qualidades que só por si as colocam no topo do ranking global das listas personalizadas. O meu problema pessoal em elaborar listas de ódios é simples: rapidamente daria por mim a odiar tudo, for the sake of it. Este facto só por si seria bastante preocupante, pelo que me poupo ao momento de introspecção que daí adviria. Não me apetece perder uns minutos a tentar descobrir como é que se consegue conciliar o ódio generalizado com a joie de vivre porque sei que acabaria, mais cedo ou mais tarde, por me sair com uma tirada transbordante de humanismo bacoco, em jeito de resolução existencial. Alguma coisa do tipo: adoro tudo o que odeio. É um exercício de auto-ajuda perfeitamente dispensável.

16.11.05

Cortante

Há quem goste do verão pelos umbigos, pelos decotes, enfim, pela panóplia de mimos que o calor propicia. Pessoalmente gosto de ombros, de ombros dourados que o sol povoou laboriosamente com sardas. No entanto, gosto igualmente desses mesmos ombros longe da vista, enterrados no pino do inverno, puros. Gosto sobretudo da sedução que sobrevive às estações, que se adapta, que se apropria langorosamente das mutações sazonais. A revelação em si não me diz grande coisa: a perdição vem com o acto criativo.

14.11.05

Noites brancas e manhãs estaladiças

É deprimente descobrir que, a partir de uma certa altura da vida, só mesmo bêbados é que conseguimos dormir mais de seis horas por noite e/ou acordar depois das onze da manhã.

Magusto

11.11.05

Zero

Nos últimos tempos, fiquei sem nada para dizer. Há quem aproveite estas ocasiões para se masturbar. Eu optei por perder dias numa deriva vegetativa à volta da rendição. Da rendição que nos espera à noite e nos ameaça de manhã. Tudo isto para tentar construir um quadro analítico que me permitisse determinar de forma definitiva se, estando sozinho, é mais deprimente adormecer ou acordar. Bem vistas as coisas, mais lirismo galopante, menos lirismo galopante, a masturbação anda sempre muito perto da superfície.

10.11.05

Falência

Gostava de poder citar grandes e pequenos pensadores, de regurgitar conhecimentos tão ecléticos quanto inúteis, meticulosamente dispostos num extenso arquivo mental, mas, infelizmente, a minha cabeça nunca chegou a ser o que era: dou-me por satisfeito quando consigo citar-me a mim próprio e não uso a terceira pessoa para o fazer.