27.2.06

Descoberta Acidental

As paredes de minha casa não têm cheiro.

17.2.06

Crenças

Vivo rodeado de pessoas cujo maior prazer na vida é chegarem 10-12 minutos atrasados ao escritório, que vão para casa às 6 em ponto pela mesma razão que chegam atrasados de manhã, que não pedem recibos porque sem impostos é mais barato, que passam a bola "a outro e não ao mesmo". Há quem não acredite que os americanos tenham ido à Lua, eu não acredito nos portugueses.

16.2.06

Diana

Há anos que recebo chamadas no telemóvel de pessoas à procura de uma Diana. Já falei repetidas vezes com amigas da Diana, já conversei com uma senhora que devia ser a mãe da rapariga, já partilhei a incredulidade colectiva, fazendo os possíveis para que percebessem que não tinha raptado a Diana, que se tratava apenas de uma linha cruzada (se é que as linhas cruzadas continuam a existir) mas aparentemente, nesta twilight zone comunicacional, continuo a ser a Diana. Ainda ontem recebi uma mensagem das minhas primas "Rita Franc e M Mar" a agradecer uma visita. Já pensei em partir à procura do meu outro eu, no que seria uma pequena aventura bipolar, mas a possibilidade de me reencontrar numa rapariga de catorze anos de Rio Tinto nunca foi grande incentivo para resolver o meu problema de identidade.

10.2.06

Anelo

Sou invadido por um súbito impulso de cuspir sangue quando saio à rua e me apercebo que, ao fim de uns meses de inverno, não ter frio é quase sinónimo de ter calor. Mais difícil do que digerir a inesperada "destropicalização" da nação é tolerar a habituação a estas noites que não impõem vodkas tónicas à varanda.

3.2.06

Sinais dos Tempos

Ando a desenvolver um fetiche por mulheres vestidas.

Escolhas

Há quem trave para não atropelar pombos. Eu prefiro passar-lhes por cima e viver com um amargo arrependimento enquanto espero pela redenção.

1.2.06

Life Coaching

"Um homem livre é um homem tolerante". Esta deve ser a única citação recorrente na minha vida. Presumo que tenha saído de uma encíclica. Pelo menos foi-me transmitida por um católico fervoroso, numa altura da minha vida em que dei por mim a fazer um exame de "aptidão cultural" que implicava ler uma dessas santas obras. Talvez não seja uma citação, talvez seja apenas uma memória corrompida, uma redução proselítica. O que é certo é que me persegue como o refrão de uma música do Filipe Gonçalves, que teria tido a infelicidade de ouvir antes de sair de casa. Tropeço permanentemente no chavão, na facilidade da fórmula, mas, mesmo estando parcialmente disponível para a libertação, sou incapaz de interiorizar o ensinamento. Talvez me seja impossível digerir o truísmo enquanto não conseguir deixar de massacrar os outros de modo a tentar obrigá-los a ter a vida que eu próprio gostaria de viver.