Pequenos prazeres
Gosto de ver a alternância cromática da paisagem, provocada pelo vagar das nuvens, nestes dias de "céu pouco nublado ou limpo, com ligeira subida da temperatura mínima".
Gosto de ver a alternância cromática da paisagem, provocada pelo vagar das nuvens, nestes dias de "céu pouco nublado ou limpo, com ligeira subida da temperatura mínima".
Olho para a minha avó e vejo a vitória do corpo envelhecido, face a uma mente ainda sedenta. A voz arrastada e a respiração sincopada expõem de uma forma dolorosa a sua fragilidade de nonagenária. O discurso carrega memórias longínquas. Fico com a ideia que passou os últimos tempos a avaliar o seu próprio percurso, numa derradeira catárse, enquanto espera pacientemente. No final da noite, levo-a ao lar a que nós chamamos a casa dela, cheio de medo de a matar involuntariamente. 92 anos devem levar muito tempo a rever.
Fui finalmente ver o dito filme. Gostei da maneira como somos submergidos pela normalidade, pela placidez gelada daquele liceu, que nos permite olhar para a subsequente violência sem preconceitos. Neste caso, gostei também da realização se ter, de alguma forma, sobreposto ao argumento. Acho que o filme só funciona assim.
Periodicamente reorganizo a minha lista de links, tentando classificar definitivamente os blogs que se encontram em apreciação ou apagando-os, e posteriormente organizando-os alfabeticamente. Cada vez que me dedico a esta tarefa fico mais convencido que não tinha hipóteses de passar da fase inicial do "Quem Quer Ser Milionário", por muito que gostasse de tentar ganhar os € 250 000. Não há maneira de saber instintivamente o abcedário. Pensava que ter que usar mnemónicas para conseguir distinguir a esquerda da direita era suficientemente mau, mas lá vou descobrindo novas extensões da minha inépcia.
Os ajuntamentos familiares semi-forçados normalmente obrigam-nos a estar ao nosso melhor nível de conversadores de chacha, numa tentativa de evitarmos falar de coisas que verdadeiramente nos marcam. Este ano, pela primeira vez, passei a consoada com o lado maternal da minha família. A certa altura da noite, um grupo de primos esteve cerca de uma hora a falar de lâmpadas economizadoras de energia. Pelos conhecimentos que cada um revelou sobre a matéria, sou levado a pensar que, no caso deles, já não era a primeira vez que passavam o Natal juntos.
A julgar pelas filas que se acumulam, a esta hora, à entrada do parque de estacionamento do Corte Inglês, desaconselho fortemente o passeio fortuito com um saco de compras dessa instituição, entre hoje e dia 26. Pode dar origem a um linchamento. É melhor tentarmos não provocar a fúria da massa consumidora de última hora. Há coisas com que não se goza.
Hoje à noite fui à feira internacional de artesanato que está no Fórum Picoas. Eu não gosto de feiras, mas um ataque subito de consumismo e um minutos para gastar, levaram-me até lá para ver se comprava uma coisa inútil para oferecer a alguém. Entre o Queijo da Serra, as bugigangas em pele de camelo, os artesãos congelados nos anos 70 e os inevitáveis incensos, apercebi-me que o mundo cheira mal.
Depois de um fim-de-semana onde passei mais tempo em bares e discotecas do que a ver o sol, apercebo-me que as dúvidas existenciais que se levantaram nestes dois dias foram levadas pela voragem etílica. As reflexões que sobreviveram até segunda-feira giram, em grande parte, à volta do mesmo: será que uma pseudo-conversa com o portas do Lux, vale 12 euros?
Numa tentativa de ganhar uns quilitos para fazer face aos rigores do inverno, tento arranjar um ritual de entretenimento que não envolva muita movimentação, para fazer face à lenta aproximação da segunda-feira. Pela segunda semana consecutiva, dou por mim a papar o compacto (3 episódios) do "All in the family", na SIC Gold. Se o corpo ainda o permitir, dou uns toques no compacto do "Family Ties", que dá logo a seguir. Este programa só tem vantagens: não vejo os telejornais de domingo (o que me impede de falar na segunda de manhã, coisa que agradeço), não vejo uma boa fatia do Herman, e mergulho em valores familiares rarefeitos.
Domingo à noite é, quase por definição, deprimente. Se nos focarmos no panorama televisivo nacional, afundamo-nos cada vez mais no poço. Hoje, para tornar as coisas verdadeiramente épicas, temos a miséria do circo inserida no indescritível Herman SIC. Acho que o que é verdadeiramente deprimente é o facto do Natal, como instituição, se ter tornado também nisto, nos tempos que correm.
Por vezes instala-se um silêncio parcial na cidade, que nos permite ouvir um som específico, em toda a sua unicidade, um som que normalmente se esvai na torrente cacofónica. Hoje, por momentos, ouvi apenas o trânsito. Sem palavras, sem pessoas, sem vento, apenas o trânsito.
Quando era mais novo, os meus pais sempre me mantiveram afastado da morte. À medida que fui envelhecendo, ela esgueirou-se da sua clausura e começou a infiltrar-se no meu universo íntimo, em sintonia com a passagem do tempo. Hoje em dia, dou por mim a fazer preparativos: tento comprar a minha primeira gravata preta. O verde escuro, ou o azul já não chegam. Com o gradual afastamento da inocência, vou tendo que escolher as minhas armas e assumir este duelo desesperado.
Eu defendo as seguintes ortografias, "da-se!" e "prontch", por oposição a "dasse!" e "prontus". Tenho dito.
Lembrei-me da minha única passagem pela Rússia, onde eu e um amigo estivemos perdidos em Moscovo, durante 12 horas. Na altura, só conseguimos comunicar com umas raparigas que falavam francês, e com um taxista improvisado que falava alemão e que tinha amigos a jogar andebol em Portugal, mais concretamente no ABC. Inglês nem vê-lo, literalmente. Aquela gente leva o isolamento a sério.
A política blogoesférica cansa-me. Cansa-me a necessidade absoluta de ganhar um debate, de procurar o argumento final, de ajustar contas. Proponho uma medida salutar: apaguem os arquivos do blog e discutam apenas o que vos ficar registado na memória. Se calhar ficam com tempo para escrever sobre outros temas. Se calhar não é a política propriamente dita que me cansa, é a política nesta organização em círculos, virados para dentro. Enfim, hoje estou cansado.
Hoje, a minha própria vida está ruptura de stocks. Tive que recorrer a vidas alheias para colmatar o vazio. Espero que chegue um fornecimento brevemente.
Estive a ler os dois posts intitulados "O fim do Welfare State" (I e II), escritos pela Clara Macedo Cabral e fiquei com vontade de opinar:
Depois de ver um anúncio de roupa interior, a única coisa que me apetece comprar é um corpo.
O JPC acha uma perfeita humilhação para os jornalistas genuínos que se vêem "atirados para o fundo das prioridades" em nome de motivos comerciais, os pseudo-leitores da imprensa diária só o serem graças às ofertas acessórias dos jornais e revistas.
Não gosto de pensar que sei falar espanhol e depois ver-me aflito para comunicar. Prefiria conseguir assumir com frontalidade que não sei falar a língua e enveredar pelo inglês (ou outro idioma qualquer) quando as circunstâncias assim o exigissem, em vez de me sentir obrigado, em nome da minha portugalidade, a aventurar-me pelas caminhos sinuosos do castelhano adulterado. É claro que para isso seria útil que os espanhóis falassem qualquer outra língua para além da sua língua materna...
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Quando iniciamos um qualquer projecto, fazemo-lo com uma vontade assassina de esvaziar para uma folha, um teclado, um écran, etc., tudo o que queríamos transmitir sobre um determinado tema, e nunca o pudemos fazer.
Não tenho opinião formada sobre a cidade. Estou a obrigar-me a gostar dela, nem que seja por ser a capital do mundo civilizado que está mais perto de Lisboa. Acho que não conheço o suficiente de Madrid para a apreciar condignamente. Numa tirada mais marialva, poderia pensar que não conheço o suficiente da vida para o fazer. Humildemente, prefiro acreditar na primeira hipótese.
Leio um conto escrito por um americano, onde o homem fala de uma forma quase onírica de uma casa que ele alugaria por trás do Prado. Na sessão de hoje do "Quem Quer Ser Milionário", 96% do público sabia que o Prado era em Madrid.
Aqui há uns tempos, li numa Granta um bom conselho, supostamente dado pelo Edmund White:
Às 9:30 da manhã, as ruas lisboetas desempenham uma função específica: levar-nos até ao nosso posto de trabalho. Sendo assim, devo admitir que me irritam pessoas que vão passear de carro, em plena hora de ponta, sem grande objectivo para além de ver as vistas matinais. Não se irritam, não aceleram quando os semáforos passam para amarelo, param nas passadeiras, ignorando completamente a fila de potenciais motoristas da DHL que circula, à beira de um colapso nervoso, atrás deles. Domingo à tarde, não é quando um homem quer, é só mesmo no Domingo à tarde.
Há momentos que nos resumem de uma forma metafórica as razões que juntam duas pessoas. Um desses momentos é quando se apercebem que estão as duas a sorrir ao ver o romantismo bacoco do Alex P. Keaton a apaixonar-se pela Lauren Miller, no episódio 127 da série "Quem sai aos seus".
Se avaliasse a produção artística da Ursula Rucker apenas pela sua vertente "a mim ninguém me põe a pata em cima", teria que fazer o paralelismo com os relógios Patek Philippe: também nunca seria o dono de um dos discos dela, apenas o estaria a conservar para o próximo jovem de 16 anos...
Só foi pena que no momento da sua captura, para além da mala com dinheiro, o Saddam não tivesse com ele uma outra mala com umas armas de destruição maciça. Ainda não é desta que nos livramos das malhas desta discussão que já está claramente para além do prazo de validade...
Periodicamente, dou por mim a almoçar em cafés de teatros (D. Maria, São Luiz). Comem-se pratos que se esforçam por ser simples, mas diferentes, direccionados à neo-executiva bem pensante. Aprecio o estilo e o cenário envolvente dos ditos cafés, mas gostava de me sentir menos rotulado cada vez que sento à mesa num desses estabelecimentos. Tenho que muscular a minha auto-confiança, ou então, começar a pensar noutras coisas para além de mim próprio...
Gosto destes senhores. Gosto da ligeireza. Gosto do estilo. Gosto da diversidade e do equilíbrio temático. Gosto do facto dos senhores gostarem do meu blog. Como me respondeu um amigo meu, quando eu questionei as suas intenções de ir viver para o estrangeiro: "Mas tu conheces alguém de jeito que queira ficar cá?" Realmente, na altura tive que puxar um bocado pela cabeça...
Agradecendo os comentários (e sobretudo o injustificado elogio) sobre o que seria um bom filme, aproveito e mando um bitaite sobre a matéria: os filmes que gostei mais foram os que fizeram sentido na minha vida, na altura em que os vi. Acho que só fizeram sentido, porque combinavam características de entretenimento com ideias. Ideias sobre o cinema, sobre a vida ou sobre qualquer outro tema, que invocaram sentimentos marcantes, introduzindo-se paulatinamente na "banda sonora" do meu quotidiano. Acho que no fundo (como já uma vez tinha dito) eram filmes que tinham uma qualidade fundamental: a universalidade.
A paixão vai-se alimentando da oscilação entre a segurança movediça e o tremor do desconhecimento.
Apercebi-me hoje, no trânsito, que a Sociedade Portuguesa de Autores e a Sociedade Protectora dos Animais partilham a mesma sigla. Ele há com cada uma...
Li na "Nova Gente" que o tipo que fazia de Leroy no "Fame" morreu. Não deixa de ser irónico que no meio do furor revivalista dos anos oitenta, um dos seus maiores ícones desapareça. Para a ironia não ser total, parece que o Leroy, como lendário bailarino que era, prestou uma derradeira homenagem à década que o tornou famoso: foi infectado com o vírus da SIDA. O que o vitimou foi um ataque de coração, mas isso não é relevante...
Às vezes interrogo-me sobre a ideia que os meus amigos fazem de mim. Aqui há uns tempos, um deles perguntou-me, como quem pede a ajuda do telefone no "Quem Quer Ser Milionário", de que animal descendia o boi. Não sei bem como interpretar esta pergunta. Não sei se devo ficar preocupado por consideram que tenho algo de zoólogo amador, ou se orgulhoso por acharem que os meus conhecimentos sobre temas inúteis são assim tão vastos.
Nos blogs fazemos afirmações. Opinamos sem medo sobre os mais variados temas. Procuramos a interactividade, mas através do nosso estilo de escrita, dificultamos ao máximo a invasão alheia do nosso recanto personalizado. Para impedir uma eventual chamada de atenção para a nossa criação paradoxal, deixamos a porta entreaberta, ao incluir uma caixa de comentários no fim de cada post.
Gosto do alcatrão. Gosto do sentimento trangressor ao sair do passeio para parar no meio de uma estrada adormecida. Gosto de olhar para o infinito em linha recta, de me baixar, tocar no manto negro compactado, sentir o calor, em liberdade, em silêncio.
A pessoa que organiza festas, normalmente, é a única que não se diverte nessas mesmas festas. Se se estiver a divertir, é provável que mais cedo do que tarde, todas as outras deixem de o fazer.
O João Pedro Pais canta-me (ou canta-nos) uma coisa deste tipo: "A chuva lá fora, que cai sobre mim". Poucos momentos depois, sai-se com um sofrido: "Porque é que a vida nos trama, quando alguém se ama?". Este homem está muito "à frente".
Sempre achei piada à forma como, em pequenos recantos do mundo, surgem verdadeiros heróis, eleitos por frequentadores desses mesmo recantos, segundo critérios unicamente aplicáveis nessas realidades parcelares. Num bar onde eu costumo ir, uma criatura miserável criou uma aura à sua volta graças às suas habilidades na mesa de matraquilhos. Assim que se afasta da mesa, volta à sua condição de lixo humano.
Gosto de definições e de ser metódico. Gosto de me interrogar sobre as razões por trás de actos alheios e de decidir se são, em primeiro lugar, compreensíveis e, em segundo lugar, aceitáveis. É precisamente por isso que não posso desprezar alguém que abdica, nas circunstâncias que descrevi. Aceito obviamente pontos de vista alternativos.
Blogs com gente a mais, e blogs com textos demasiado compridos. Nos primeiros, facilmente perco a paciência para ir procurar o último post que li, são demasiado difíceis de acompanhar. Nos segundos, o desconforto de ler páginas de linhas ininterruptas num monitor de computador, impele-me para outras paragens blogoesféricas. Uma combinação destes dois estilos é sem dúvida uma mistura infernal. Acho que um blog se devia sempre desenvolver num lânguido gotejar.
De certa forma, admiro as mulheres que abdicam, que aprendem a viver diariamente com a subjugação a um certo tipo de amor injusto, conduzindo-as cruelmente a uma sublimação sentimental, a uma espécie de missão divina: fazer o que for preciso para manter a relação operacional.
Nas noites de verão o silêncio é palpável. Na rua ouve-se o pulsar abafado da cidade. O vento é espesso, sedoso, percorre-nos, num lento serpentear.
Gosto de sentir a música, e não de a pensar, mas quando chego ao hip-hop (na sua generalidade) não consigo fazer uma coisa, nem outra. Acho que basicamente embirro com a parte vocal. Nunca percebi aquela escola de pensamento que defende que para falar (ou "répar") não é preciso saber cantar.
Chegou a minha vez de falar sobre o badalado filme. Até prova em contrário, o cidadão médio achou o filme sobretudo chato. Além disso, continua a achar que o Sean Penn é mau actor. Prefiro não intelectualizar estas coisas, até porque não o sei fazer.
Considerando que estou presente por motivos egoístas, a minha principal preocupação num velório/funeral é que a minha presença não seja ofensiva.
Estou sentado no carro, à espera. Olho à minha volta, à procura de pontos de interesse. Nada. O quotidiano. Lembro-me de tentar descrevê-lo (estou a precisar de treinar a escrita). Rapidamente caio num certo lirismo. O "ram-ram" diário, só mesmo com poesia.
Na nossa meninice, partíamos coisas em grupo, tirávamos macacos do nariz e comparávamos a sua consistência, tentávamos vislumbrar as cuecas das raparigas, organizados em matilha, etc. Na vida adulta, vamos a funerais, festas de anos, casamentos, aturamos os filhos dos outros, as crises existenciais, e se tudo correr como planeado, ainda ficamos sem alguns amigos por causa disso. Algo se perdeu pelo caminho...
Alguém me manda uma mensagem a perguntar se o motivo que me impediu de mandar novidades nos últimos tempos, foi uma emigração forçada para a Sibéria. Não sei quem me manda a mensagem, mas a pessoa que a mandou sabe quem eu sou. Interrogo-me se devo responder: se não mandei novidades foi por alguma razão.
Uma das consequências mais desagradáveis de perder o telemóvel, é que durante uns tempos vou ter que atender chamadas indiscriminadamente. Com os contactos das pessoas com quem eu quero falar, também foram alguns de pessoas com quem eu não quero falar. Estou vulnerável. Sou obrigado ao socialismo.
Parece que a maior parte dos portugueses se casa entre os 25 e os 29 anos. Esta semi-inevitabilidade estatística tem uma de três consequências possíveis para alguém que, como eu, se encontra neste intervalo: ou nos casamos, ou vamos a casamentos, ou podemos ainda assistir a separações trágicas. É (no mínimo) deprimente ter 26 anos.
Hoje, pelas 19:00, passei por uma das entradas para o parque de estacionamento das Amoreiras. Não é que o parque não estava completo??? Num espasmo de normalidade, o meu primeiro impulso foi o de entrar para o parque, aproveitando esta oportunidade única para ir "tratando das compras de Natal". Mas aí é que me apercebi do passo quase fatal que ia dar: entrar nas entranhas de um centro comercial, em Dezembro, sem ficar numa fila, à espera que uma alma caridosa saia do estacionamento e me deixe entrar para o inferno? Nada disso! É precisamente este género de armadilhas que podem traumatizar uma pessoa para o resto da vida. Não quero saber de Natais tranquilos e fraternos. Quero, isso sim, deleitar-me com a certeza, em Janeiro, de ter doze meses de paz pela frente.
O que é verdadeiramente angustiante na dor, é o facto de ela ser indivisível, é a certeza visceral de isolamento que desce sobre nós quando tentamos partilhar algo tão distintamente nosso.
Em Portugal fugimos para a frente. No trânsito, por exemplo, olhamos para a frente, na esperança de que o carro que circulava na faixa ao nosso lado tenha desaparecido, no preciso momento em que nos atirámos para cima dele. Se não olharmos, não o vemos, se não o virmos, não temos a obrigação moral de evitar a colisão: passamos a bola. É um clássico.
No sexta-feira à noite, fui assaltado. Deram-me uns encontrões e levaram-me o telemóvel. Gostava de ter algo de interessante para dizer sobre isto, mas os senhores que levaram o meu nokia, deixaram-me apenas com uma ligeira revolta interior e uma rede para reconstruir. Nada mais.
Já por várias vezes dei por mim, algures no estrangeiro, num momento de desorientação, a olhar para uma qualquer multinacional e a sentir-me reconfortado. É curiosa esta consequência da globalização: involuntariamente, damos por nós a encarar uma empresa como uma representação de algo que nos é familiar, caseiro, e que nos poderá prestar apoio, se a situação o justificar, como se de uma embaixada se tratasse. Espero que o sindicato dos trabalhadores do McDonald's tenha em consideração esta missão diplomática de apoio ao "cidadão do mundo", na próxima negociação salarial.
Resolvi não alimentar o monstro em dias inúteis. Parece-me ser uma decisão sobretudo saudável.