28.11.03

O fim da linha

É assustador ver alguém acabado, com a derrota nos olhos, que foge de si próprio, do fim.

Caridade

Devo prestar uma homenagem pública a toda a equipa do Sporting que, no seguimento dos atentados de Istambul, revelou toda a sua nobreza, ao não dar o golpe de misericórdia, a um país ajoelhado. Os turcos não levam de Alvalade apenas uma vitória, levam a dignidade do seu país. É nestas coisas que se vê que nas veias deste clube corre um sangue diferente do nosso. Bem hajam!

O que é nacional é bom

Comprei uns sapatos Camport (aqueles portugueses, confortáveis, de sola de borracha, baratos), numa tal sapataria Oliveira. Foi uma compra que gerou um mini-conflito interior, uma vez que, se é verdade que precisava deles para o inverno, também não queria andar calçado ao estilo "empregado de balcão", por questões de sobrevivência nesta sociedade injusta.

Lá entrei na loja, o mais rapidamente possível para evitar ser detectado. Fui atendido por um dos oito senhores que estavam sentados à espera de um cliente, dos quais seis tinham bigode e óculos de armação dourada, todos nos seus quarenta e muitos. O Sr. Oliveira a controlar a caixa (claro). Muito prestáveis, muito profissionais, levaram-me o dinheiro com ligeireza.

Assim que saí da loja, o conflito voltou. Ando com um estigma social nos pés. Enfim, lá fui sobrevivendo. Uns dias depois, vi uma campanha que anunciava que todas as pessoas que comprassem uns sapatos da marca a partir daquela data, poderiam concorrer a um VW Golf. De repente, dou por mim ostracizado entre os utilizadores de Camport. Algures lá fora, anda um empregado de balcão, montado num Golf, a rir-se de mim.

Alvo em movimento

Por muito demagógico que seja, a ida do Bush ao Iraque foi um gesto notável. Por outro lado, é impressionante ver como, nesta altura do campeonato, para os soldados americanos, qualquer pessoa que vá ao Iraque e volte inteira, é uma figura quase divina.

27.11.03

Agradecimento público

No final da terceira semana de blog (segunda de bloguismo activo) devo fazer um agradecimento público aos seguintes senhores por terem falado em mim e até, em certos casos (ao que isto chegou), por terem falado bem de mim: Aviz(que montou a armadilha), Glória Fácil, O Cafageste, Estrangeirados, Ponto e Vírgula, Vitamina C/João Sousa, aDeus, Dah-Blog.

Lamentavelmente, não me lembro de alguns que ficaram para lá da centésima posição do sitemeter. Humildemente espero que a intenção conte.

Obrigado.

A noite, o que é? (perdoem a blasfémia)

Hoje em dia, é uma seca. Rás t'a parta mais o electro-pop! 10 anos de anos oitenta foi o suficiente!

Holandês em chamas

Parece que um holandês se carbonizou, em Tavira. Uma senhora de idade, diz que a casa era de Platex (???) e por isso é normal que aquilo arda. Outra diz que o rapaz já tinha explodido com a casa no ano passado, que gostava de fazer experiências com o depósito de gasolina do carro, e por isso o incêndio devia ter qualquer coisa a ver com as inovações do falecido. Os bombeiros atiram para a fogueira (passo a expressão) a hipótese da explosão de gás. Eu cá aposto que adormeceu a fumar. Mais alguém?

É a cultura, estúpido.

Fui ao S. Luiz, na minha qualidade recém-adquirida de blogger, observar esta parcela da cena cultural nacional. Comentários:

- Nos primeiros minutos, não percebi do que é que o Gonçalo M. Tavares estava a falar. Acho que nem ele próprio;
- A Anabela Mota Ribeiro faz o que pode para explicar o inexplicável;
- Ainda inspirado pela Anabela Mota Ribeiro: desconfio de pessoas que falam como pensam (usando o mesmo vocabulário);
- A ideia de literatura como fim em si mesmo, transcende-me;
- Tenho que começar a olhar com mais atenção para a BD;
- O Nuno Costa Santos tem mais jeito para fazer crítica literária, em cima de um palco, do que o José Mário Silva;
- O Pedro Lomba é demasiado "manso" para se confrontar com o Daniel Oliveira;
- O Ricardo de Araújo Pereira tem graça.

Globalmente, apreciei.

A esquerda e o egoísmo

Enveredando pelo caminho da banalidade, confesso que me faz alguma confusão aquela história que a esquerda defende, sobre o individualismo liberal só poder acabar no egoísmo instituído. Nunca percebi esse raciocínio. De modo a atingir objectivos egoístas (de sobrevivência, na sua forma mais primária), o melhor e mais racional caminho é o da cooperação (v. dilema do prisioneiro). Cada um tem mais probabilidades de ganhar, quando todos ganham. O egoísmo liberal só poderia existir fora da teia social.

Traumas II

Uma das faces visíveis do trauma do 25 de Abril, é que a esquerda, em Portugal, não é um ideário político mas sim uma religião.

26.11.03

Da-se!

Acabei de reordenar os meus links. Tive que criar uma secção à parte para o Causa Nossa, com o nome "Da-se!" (perdoem-me a vulgaridade). É a minha forma de dar as boas-vindas à Drª Ana Gomes (e restante staff) à blogoesfera.

Misticismos

Comprei o livro do Eduardo Gageiro sobre Lisboa. Pela primeira vez vi uma foto de um vendedor de banha da cobra. Foi como se tivesse visto uma foto de um gambozino, ou de Deus.

"A observação tem tanto de deslumbre como de angústia"

Acho piada à necessidade que temos de nos explicarmos uns aos outros, de nos relativizarmos mutuamente, montando as peças do nosso lego quotidiano.

É realmente verdade, tanto me sinto deslumbrado como angustiado em relação ao mundo que me rodeia. Talvez esse seja precisamente, um dos infortúnios da Classe Média: saber quanto já percorremos, mas não termos a noção do que nos falta percorrer, apenas de que não estamos perto do fim.

Heróis

Há uns tempos, conversava com um amigo sobre bombeiros. Ele dizia que na terra dele, os bombeiros ficavam o dia todo a enfrascarem-se no café, e de vez em quando, ateavam eles próprios incêndios, para se ocuparem e terem acesso a fundos públicos. Confesso que a ideia de que os meus heróis de infância (ainda hoje em dia tenho uma admiração beata por "profissionais do salvamento") estavam mergulhados no lodo que periodicamente vem à tona, foi difícil de engolir. Preferi deixar de prestar atenção do que questionar, talvez irremediavelmente, a nobreza dos indivíduos que formam aquela instituição. Uma crise de cada vez, por favor.

Longe

O que me lembro melhor do dia que passei em Macau (antes de 1999), é do seu céu opressivo, do vento cortante, da tonalidade acinzentada da paisagem. Em Macau senti precisamente o oposto do que em cafés de imigrantes em Boston ou Toronto: a morte da portugalidade. Nunca estive tão longe de casa.

25.11.03

Traumas

Com as devidas limitações, hoje em dia, como jovem de 26 anos que sou, uma das principais razões que tenho para me irritar com o facto do Dr. Salazar e os amigos terem traumatizado Portugal durante 50 anos, é que gostava sinceramente que não estivéssemos há 30 traumatizados com o 25 de Abril.

Critérios Editoriais

Os comentários, aos meus dois últimos posts, da autoria do Sr. (?) Gasel e do Sr. Zé, que passo a citar: "Pois..." e "Oh meu, get a life!", respectivamente, puseram-me a pensar.

A minha primeira reacção foi, obviamente, a de repensar a possibilidade de existência de democracia directa neste blog. No entanto, como não gosto de enfiar a cabeça na areia, resolvi antes esclarecer a minha linha editorial, tanto quanto me é possível fazê-lo (visto que ela não existe), baseando-me na minha produção recente.

Neste blog, escrevo sobre duas coisas: tudo e nada (como diria o outro). Gosto de escrever sobre insignificâncias porque acho que não perdemos tempo suficiente com elas, e gosto de escrever sobre "tudo" porque é difícil. Na modalidade insignificante, consigo escrever quatro ou cinco linhas seguidas, em modo "tudo", na melhor das hipóteses sai-me um "(quase) haiku" (como lhe chamou o Ponto).

Estas duas modalidades têm problemas evidentes: ou não interessam a ninguém, ou são demasiado herméticas para o consumo imediato (eu próprio não sei o que quero dizer, muitas vezes). Face a isto, que conselho poderei dar ao Sr. (?) Gasel e ao Sr. Zé, de modo a melhor apreciarem a experiência de ler as baboseiras que eu escrevo? Nenhum. Só posso mesmo agradecer terem passado por cá. Não garanto que melhore, mas vou esforçar-me.

24.11.03

Confusões

Dizer pensinho higiénico (por oposição a penso higiénico) não diminui o tempo em que podemos ser ouvidos a falar da higiene íntima da mulher. Prolonga-o.

Interrogação do dia

Devemos comprar iogurtes (dos sólidos, não dos líquidos) numa pastelaria? Ou fiambre? Se por um lado a racionalidade económica devia levar-nos a fazer essas compras no Continente mais próximo, por outro lado, também dá um ar de sofisticação bestial, sair da Versailles com um produto destes debaixo do braço. De repente sentimo-nos um "local". Fazemos parte do grupo das Avenidas Novas. Sensação que dura apenas enquanto caminhamos até ao carro, para nos dirigirmos à Segunda Circular.

Nota: Apercebi-me que escrevi um post algo bairrista. "Avenidas Novas" foi utilizado como referência a um bairro lisboeta de classe média/alta e "Segunda Circular" como o penoso caminho para os subúrbios.

Mundo global

A facilidade com que falamos com alguém do outro lado do mundo ainda me espanta. Levar com o mundo global através do telemóvel é uma coisa algo avassaladora, mas que me arrancou o primeiro sorriso do dia. Gosto de saber que não estou sozinho. É apaziguador.

Ambivalências

Coexistência de sentimentos antagónicos em face do mesmo objecto, nem mais. Porquê? Muito simplesmente porque fiquei com a ideia que o Glória Fácil é um blog implacável. Eu tenho algum receio de "entidades" implacáveis, porque sou demasiado falível, para estar imune ao comentário cirúrgico. Além disso, estou em desvantagem numérica e tenho noção das minhas limitações. Apesar de tudo, reconheço que a implacabilidade é de qualidade e por isso merece, sem dúvida, uma leitura.

Quanto aos outros, a ambivalência existe porque, na minha opinião, apesar da igualmente inegável qualidade, há sempre demasiado de alguma coisa no conteúdo dos blogs: demasiada política, demasiada erudição, etc. Há coisas que eu não quero incluir, neste momento, na "banda sonora" da minha vida. Talvez mude de opinião. É o mais provável. Mas vou lendo. Faz bem à saúde.

Teoria da conspiração

Cada vez mais me convenço que faz todo o sentido aquela teoria sobre o cão, na sua qualidade de melhor amigo do homem, nos dar apenas o necessário para o alimentarmos (excluindo a tal "amizade" da equação). O meu cão faz de mim o que quer. Como diria um amigo meu: a partir do momento em que saímos de casa a meio da noite, para andar atrás de um cão, a apanhar o cócó dele, podemos ter a certeza que algo está errado no mundo. Nem vale a pena olharmos para o Médio Oriente, o problema está na nossa sala, a dormir no sofá.

23.11.03

Ler livros dá dinheiro?

O Pedro Lomba interroga-se: Acham que alguém ascende socialmente por escrever romances? Acham que o Belmiro de Azevedo leu livros na vida? Acham que o sucesso profissional tem alguma coisa a ver com livros?

É claro que não. É precisamente o contrário: o número de livros lidos é inversamente proporcional ao dinheiro que se ganha (pelos menos para os amadores da literatura). Porquê? Muito simplesmente porque alarga horizontes, e quando damos por nós não conseguimos ter um único interesse/objectivo na vida, passamos a ter múltiplos anseios. Distrai-nos da nossa missão. Impede-nos de viver para trabalhar, porque de repente damos por nós a pensar.

Eu não tenho qualquer dúvida: quem não lê é seguramente mais feliz. Afinal de contas: "Ignorance is bliss".

Desistência

Duas pessoas desrespeitam-se, violentam-se, tornam-se opacas. Numa última homenagem aos anos passados ao lado uma da outra, recusam-se por turnos a assumir a responsabilidade por declarar a falência do amor. Os amigos interrogam-se sobre qual das duas terão de apanhar do chão primeiro.

Pequena nota: Não, ainda não comecei a ler a Inês Pedrosa.

Fica comigo esta noite

Comprei o último livro da Inês Pedrosa. Confesso que tive vergonha de ser visto com o livro na mão. Não sei se é bom ou mau, mas pelo menos a Inês tem o dom de escrever livros com títulos que me obrigam a lidar, em público, com a minha banalidade sentimental. De repente, sentir um elo emocional com as outras 50.000 pessoas que vão comprar o livro é o chamado banho de humildade.

Operação Triunfo

Um grupo de jovens (da minha idade) discute as possibilidades da Fábia (?) passar à fase seguinte se lhe calhar uma canção que "puxe muito pelos agudos". Onde é que isto vai parar?

Casas de putos

Num jantar de amigos, foi encontrada uma solução para virar os efeitos da má publicidade internacional dos nossos "alegados" casos de pedofilia, a nosso favor: o franchising. Porque não internacionalizar a marca "Casa Pia"?

Mortalidade

Desde que me apaixonei, tenho medo de morrer.

22.11.03

Enquanto dormias

Fui à procura de registos pessoais de outros momentos em que senti a tua falta e encontrei esta frase:

Escrevo-te porque enquanto o faço estás aqui, ao meu lado.

Até já.

O corrimão elevado a arte

Numa exposição da Fernanda Fragateiro, na Culturgest, há uns tempos, fui confrontado com o dilema clássico de um tipo da Classe Média: como parecer inteligente face à incompreensão absoluta? Na altura, as circunstâncias facilitaram-me a vida (estavam mais 3 pessoas a ver a exposição e uma delas tinha 2 anos), mas confesso que a próxima exposição me atormenta. A mediania é um problema.

21.11.03

Onanismo

Vou à procura do meu blog no Google, com a esperança de me encontrar à primeira. Não só isso não aconteceu, como descobri que há um tipo com um blog chamado "Classe Média" alojado no Blogger brasileiro. Como se isto não bastasse, o homem ocupa um proeminente segundo lugar no resultado da pesquisa. Para cúmulo dos azares, o blog dele é muito mau. Deixo um exemplo:

Eu gosto muito de música clássica e popular. Sabendo disso, o meu amigo Lizandro me deu um cd de uma banda que só canta clássicos da música popular, como Roberto Carlos e Daniel. Enfim, ele juntou o útil ao agradável. E com a vantagem de que as músicas são cantadas em espanhol. Assim, a gente aprende palavras novas...

Tenho que tratar rapidamente de aumentar a notoriedade da marca. Arrisco-me a que me perguntem na rua se eu sou filósofo, esteta e comerciário. Não pode ser.

Gelatina

A malta do futebol mete-me nojo. Desde o "dirigente de federação" que explica que a mancha vermelha na parede foi feita por um saco de framboesas que alguém chutou, e que por isso não há razão para tanto alarido, até ao seleccionador que afirma que os rapazinhos são "do campo" por isso têm uma desculpa para destruir um balneário. É impressionante como esta gente gelatinosa é incapaz de dar a mão à palmatória e assumir as responsabilidades pelo comportamento dos selvagens.

Reclamação reaccionária

Apesar de me considerar de direita, gostava desde já de reclamar o direito de achar algo "bonito". Farei uso desse direito em altura oportuna.

E agora, um golpe de rins

Infelizmente, lembro-me mais uma vez da frase do Yves Simon: as partidas devem ser mantidas em segredo porque são demasiado dolorosas para os que ficam para trás.

Por falar em evacuar

Nunca percebi como é que há "verdadeiros artistas" que arranjam maneira de falhar a sanita nos WCs dos aviões, quando se sentam para obrar. E não me venham dizer que é da turbulência. Uma pessoa mal se consegue mexer lá dentro, quanto mais ter liberdade para se desequilibrar.

Evacuar no Ritz

Ao que parece, há uns dias atrás uma qualquer senhora lembrou-se de utilizar um dos duches do balneário feminino desta prestigiada instituição hoteleira lisboeta para cagar. São episódios destes que me fazem dizer que os cavalheiros da Lapa (ou os filhos deles) padecem dos mesmos problemas que os meliantes do Bairro das Fontaínhas: toxicodependência, gravidez indesejada e prematura, insucesso escolar, etc. Afinal parece mesmo que os opostos se atraem. Há apenas uma pequena diferença: na Lapa, tudo isto é um luxo, nas Fontaínhas é uma necessidade.

20.11.03

Quem bloga?

Este episódio do post "Subsídios" revela a minha a dificuldade em encontrar uma persona bloguísitica. No fundo não sei o que quero deste espaço. Também não sei o que não quero, o que já escapa ao jogo de palavras habitual. A ascensão social está a revelar-se ser um dos tais conceitos abstractos. Talvez esteja simplesmente a precisar de falar para as paredes.

Vamos ser claros...

O post anterior além de ser chato (diria mesmo infantil), não interessa ao Menino Jesus e não é certamente o tipo de temas que eu quero desenvolver aqui. Talvez num café, a discutir com alguém que saiba do que está a falar, o que não é o meu caso. Mea culpa. Não voltará a acontecer. Já chega de cabalas...

Subsídios

Estava aqui a tentar perceber como são atribuídos os subsídios do ICAM, e fiquei contente por ver que essa atribuição tem três vertentes distintas. Passo a citar:

- Sistema de Apoio Financeiro Selectivo, que atende ao conteúdo da produção, às suas propostas estéticas, técnicas e artísticas;

- Sistema de Apoio Financeiro Directo, que completa os contributos financeiros directamente obtidos pelo produtor para a montagem financeira do projecto;

- Sistema de Apoio Financeiro Automático, que atende aos rendimentos obtidos com a exploração da obra anterior do mesmo produtor, nomeadamente à venda de bilhetes, durante o período de exibição em sala.


À primeira vista pensei que o apoio financeiro seria uma espécie de média ponderada destas três vertentes, mas afinal parece que não. Parece que cada categoria cinematográfica (animação, longa metragem de ficção, documentário, etc...) só tem acesso a um tipo de apoio.

Neste momento, pelo que eu percebi do site do ICAM todas as categorias, excepto as longas metragens de ficção, têm direito à modalidade "selectiva", ou seja, decidida pelos homens e mulheres da cena cultural. As longas metragens têm acesso ao apoio directo, o tal que não se percebe bem em que bases é atribuído (vulgo Fundo de Desemprego Corporativo).

O que me espanta nisto tudo, é que a modalidade automática, a única que tem em consideração o espectador, não é aparentemente relevante neste processo. Se é realmente assim, isto não faz qualquer sentido, e vem confirmar o que eu achava: em Portugal faz-se cinema para alimentar a classe. Deve ser a única indústria no mundo, onde as empresas se podem estar nas tintas para os clientes. Isto é particularmente ridículo considerando que é o cliente que paga o subsídio, e é simultaneamente a única ligação com o mundo exterior do cinema português.

O serviço público dá para tudo. Afinal de contas temos que educar o povo. Suponho que seja mais difícil fazer cinema de qualidade que seja apelativo para as massas. E eu que queria universalidade...

Ideias sem calorias

Interrogo-me sobre como gostar de cinema sem "perceber" nada de cinema. Terei que me limitar a obras universais, onde exista uma convergência dos tais sentimentos/estados de alma e das ideias? Incomoda-me não conseguir/saber apreciar conceitos abstractos. Incomoda-me igualmente o cinema light. Incomoda-me sobretudo sentir-me algures entre a mediocridade e a grandeza intelectual. A treta da Via do Meio budista ser o caminho para a salvação não passa disso mesmo: uma treta.

Mais taxismo

Parece que os industriais do táxi que frequentam o Aeroporto de Lisboa estão nervosos com a detenção dos três colegas que andavam a roubar os inocentes turistas, cobrando-lhes mais do que deviam. Estão preocupados com a má influência que isto pode ter na imagem da classe. Dá-me ideia que é precisamente o contrário: terem apanhado três só pode abonar em favor deles.

Curiosamente, veio logo um espécimen da classe dizer que "eles" deviam ir era atrás dos grandes que roubam muito, não é dos pequenos que só roubam dois ou três euros. Acho que a manif anti-taxista se impõe cada vez mais...

Ai os imortais, os imortais...

Acho que o cinema português moderno (whatever that means) é cada vez mais um fundo de desemprego alternativo (ou mesmo complementar). Não vejo outra explicação para o facto de em todos os filmes nacionais existir um papel, por muito pequeno que seja, para todos os actores portugueses. Do ponto de vista do espectador (eu próprio), essa malta mantém a "indústria" activa exclusivamente uns para os outros. Já agora podiam dar alguma coisa à rapaziada anónima que paga o subsídio. Não se faz.

19.11.03

Ser intelectual...

Antes de qualquer outra coisa, falta-me tempo para ascender socialmente. Não há maneira da "grande cultura" vir a mim em horário pós-laboral.

A sonolência do viajante

Muitas pessoas, assim que se apercebem que uma viagem vai durar o suficiente para a aparição indesejada de momentos de silêncio, ou para uma intrometida reflexão sobre a condição humana, têm uma reacção quase mecânica e adormecem instantaneamente. Mecanismo de defesa? É claro que também existe a possibilidade de ser apenas um desmoronamento físico, puro e simples. Tenho que tentar não ir sempre a guiar para poder investigar estes fenómenos.

Portugal não é só teu

Como se não bastassem as razões para ter uma aversão natural ao industrial do táxi, esta palhaçada das manifestações anti-PEC (Pagamento Especial por Conta), a juntar à história dos GPS oferecidos pela CML, só me faz pensar que nós, os restantes condutores, é que devíamos fazer uma manif anti-taxistas.

Em alternativa, podíamos passar à acção e ir para o cruzamento mais próximo, esperar pelo primeiro fogareiro que apareça da esquerda em modo "rei do alcatrão", e atirarmo-nos para o meio da estrada sem hesitações. Há poucos prazeres maiores do que entalar um chófer de praça entre o Código da Estrada e a parede.

Já agora, um pequeno reparo sobre o "O Amor Acontece".

A Emma Thompson, nos cinco minutos em que aparece, quase salva os 5 € que gastei...

Em pleno revivalismo eighties

Lembro-me dos sonhos românticos da puberdade a propósito do "Quatro Casamentos e um Funeral". Não há maneira dos filmes da nossa vida passarem a ser.... a nossa vida.

Saco de plástico

Nunca cheguei a perceber o raciocínio subjacente aos sacos de plástico "finos" que as pessoas carregam com tralha lá dentro. Será uma coisa do género: agora vou pôr a "Ana + Atrevida" e a minha sandesinha dentro do saco da Zara, porque assim ninguém repara que estou dentro do 121 da Damaia às 8:12 da manhã?

Envelhecer ou inflacionar?

Apercebo-me que estou a ficar velho porque, no último ano, pela primeira vez, sinto que os preços aumentaram. É claro que há quem lhe chame crise económica. Considerando que me fico pelos 26 aninhos, a realidade era uma figura ficcional até há poucos anos atrás.

Por falar em cinema...

Num domingo à tarde, a ver um "blockbuster", o espectáculo à nossa volta é bem melhor do que o filme em si.

18.11.03

Almocreve?

Estava aqui a organizar a minha lista de links e cheguei à vez do Almocreve das Petas. Não fosse eu Classe Média, tive que ir procurar o significado de "almocreve". Como sou assumidamente ignorante mas presumo não ser o único, resolvi partilhar: parece que um almocreve é um homem que aluga e conduz bestas de carga. Está certo.

No entanto, já que ambiciono subir na escala do conhecimento, resolvi testar o meu vocabulário e confirmar que sabia o que era uma peta. Caldo entornado:

Peta:
s. f.,
mentira;
machadinha nas costas do podão;
orelha do sacho;
lula;

prov.,
fígado de porco assado;

Brasil,
espécie de bolo leve de mandioca.

do Lat.pitta < Gr. pitta

s. f., Veter.,
mancha no olho do cavalo;
mancha de podre, na fruta.


Resolvi ficar-me por aqui porque esta exploração estava a deixar-me deprimido.

O amor não acontece assim...

Apesar do homem ser um querido, o último filme com o Hugh Grant ("O Amor Acontece") é mau demais. Como se não bastasse a trapalhada de fraca qualidade que é o resto do filme, a "nossa" Lúcia Moniz faz o papel de sopeirinha imigrante em França. Confesso que achei o papel da Lúcia sobretudo confrangedor, mas no final constatei um facto curioso: a paródia aos portugueses foi o único momento em que me ri com gosto durante o tempo que estive sentado nas cadeiras do Saldanha Residence. Não consegui perceber se isto era bom ou mau sinal.

17.11.03

Definições

A Classe Média compra livros.
A Classe Média não tem disciplina para ler com regularidade.
A Classe Média não se consegue lembrar dos livros que lê.
A Classe Média guarda uma memória sentimental.

A Classe Média vive dentro do sistema.
A Classe Média escolheu tentar ser rica primeiro, para depois poder ser artista.
A Classe Média não consegue perceber porque é que "diz que" a Coca-Cola é má.

A Classe Média respeita a Alta Sociedade.
A Classe Média gostava de um dia poder criticar a produção literária de poetas e ensaístas políticos.
A Classe Média "linka" mas espera que não se apercebam da sua existência enquanto o conteúdo não for, pelo menos, mediano.
A Classe Média procura a ascensão social por imitação.

Eu sou Classe Média e este é o meu blog (peço desde já desculpa por esta frase).

13.11.03

Vamos ver como é que isto fica...

O Bloguismo semi-profissional requer mais conhecimentos de HTML do que eu estou disposto a adquirir...

12.11.03

A mediania segue dentro de momentos...

Vou almoçar.