Num
filme que de cinema tem pouco, vemo-nos obrigados a lidar com uma paixão que passa por real, despojada mas familiar. Desse ponto de vista, é fácil fazer o que queremos do filme, é fácil apropriarmo-nos dos diálogos, das hesitações, do brilho. Também é fácil tropeçar em incompatibilidades entre as duas personagens e nós próprios, esquartejá-las como fazemos com as outras "pessoas". No meu caso, não gosto da
Céline. Diria mesmo que não a suporto.
Não gosto do facto de ela se descrever paradoxalmente como uma "strong, independent woman", num
travelling sobre a inevitabilidade da dependência. Não gosto da sua maturidade forçada, da sua sinceridade desabrida. É uma mística que não é a minha. É um exercício que sou incapaz de fazer. Especialmente quando em gritante contraste com a desilusão discreta, a fragilidade contida de um
Jesse sazonado.
De qualquer forma, o filme serviu o seu propósito: não me trouxe a salvação, nem uma fé renovada, mas sim memórias de uma vida mais simples, polvilhada de sentimentalismos aparentemente complexos. Dez anos depois, volta a confirmar-se que todos os amores são ridículos e que os dos outros são sempre mais ridículos do que os nossos. Ou vice-versa. Dez anos depois, a simplicidade deste abismo voltou a aproximar-me de quem já na altura tinha a mesma embirração com a
Julie Delpy que eu.